Silvia Federici

Silvia Federici

Silvia Federici, nascida em 1942, na Itália, é uma filósofa, historiadora, professora e ativista feminista conhecida por suas análises pioneiras sobre o trabalho reprodutivo, a acumulação primitiva e as lutas feministas contra o capitalismo. Sua obra se destaca por conectar a exploração do trabalho das mulheres à lógica da acumulação capitalista, oferecendo uma visão crítica sobre como o patriarcado e o capitalismo estão intrinsecamente relacionados. Federici é uma figura central no movimento feminista internacional e é reconhecida por sua influência nos estudos sobre gênero, trabalho e história. Seus escritos continuam a inspirar movimentos sociais, especialmente no campo da luta pelos direitos das mulheres, pelo cuidado e contra a violência sistêmica.

Silvia Federici, O Trabalho Reprodutivo e a Exploração das Mulheres

Um dos principais temas no pensamento de Federici é a análise do trabalho reprodutivo — o trabalho realizado majoritariamente por mulheres, como o cuidado dos filhos, a manutenção da casa e a criação da vida cotidiana. Em seu livro mais influente, “Calibã e a Bruxa” (2004), Federici argumenta que o trabalho reprodutivo é fundamental para a sobrevivência do capitalismo, mas é invisibilizado e não remunerado. Ela sugere que o capitalismo se sustenta não apenas pela exploração do trabalho produtivo, mas também pela apropriação gratuita do trabalho doméstico, essencial para a reprodução da força de trabalho.

Federici faz parte de uma tradição feminista marxista que vê o trabalho doméstico como central para a acumulação de capital, uma vez que o trabalho realizado dentro da casa permite a reprodução diária da força de trabalho que o capital explora. Segundo ela, o trabalho das mulheres é desvalorizado porque não cria diretamente mercadorias, mas cria as condições para que o trabalho produtivo aconteça, sustentando o funcionamento do sistema capitalista.

Ela também foi uma voz importante no movimento internacional Salários pelo Trabalho Doméstico, que exigia que o trabalho reprodutivo fosse reconhecido e pago, como uma forma de confrontar a exploração das mulheres no sistema econômico.

Silvia Federici, A Acumulação Primitiva e a Caça às Bruxas

Em “Calibã e a Bruxa”, Federici oferece uma análise histórica da acumulação primitiva — o processo descrito por Karl Marx como o ponto de partida do capitalismo, marcado pela expropriação das terras dos camponeses e pela imposição do trabalho assalariado. Federici expande essa análise para incluir o papel central das mulheres nesse processo, argumentando que a caça às bruxas na Europa entre os séculos XVI e XVII foi uma forma de controle e repressão das mulheres em resposta às transformações que o capitalismo trouxe.

Ela sugere que a caça às bruxas foi essencial para destruir formas de vida comunal e não capitalistas que existiam nas sociedades europeias pré-modernas, em que as mulheres desempenhavam papéis centrais como curandeiras e líderes comunitárias. Essas práticas e conhecimentos femininos eram vistos como uma ameaça ao nascente sistema capitalista, que precisava subjugar as mulheres e controlar seus corpos para garantir o controle sobre a reprodução da força de trabalho.

A caça às bruxas, para Federici, não foi apenas um ataque misógino, mas uma parte integrante do processo de transição para o capitalismo. Ao destruir a autonomia das mulheres e suas formas de resistência, o sistema capitalista pôde se expandir com maior facilidade, consolidando uma divisão sexual do trabalho que beneficiava a exploração econômica.

Capitalismo e Controle sobre o Corpo Feminino

Federici também explora como o capitalismo se baseia no controle dos corpos femininos, especialmente através da regulamentação da sexualidade, da reprodução e do trabalho das mulheres. Ela argumenta que o capitalismo precisou disciplinar e controlar os corpos das mulheres para assegurar a reprodução da força de trabalho e para manter a exploração do trabalho não pago dentro da esfera doméstica.

Através do controle da sexualidade feminina, o capitalismo impôs novas formas de poder sobre o corpo das mulheres, tanto no nível institucional quanto no cotidiano. A caça às bruxas foi uma expressão desse controle, mas Federici também vê formas contemporâneas de controle sobre o corpo feminino, como o controle sobre o aborto, o acesso aos cuidados de saúde reprodutiva e a violência sistêmica contra as mulheres, como continuidade dessa lógica de dominação.

Ela propõe que a luta contra o capitalismo é inseparável da luta contra o controle patriarcal sobre o corpo e a sexualidade feminina. As lutas feministas, para Federici, devem ser vistas como centrais nas lutas por emancipação e justiça social.

Silvia Federici, O Comunalismo e a Luta pelo Comum

Federici também é conhecida por sua defesa do comunalismo, ou seja, a ideia de que a luta pela emancipação deve passar pela recuperação dos bens comuns e pela criação de novas formas de vida comunitária e cooperativa. Ela acredita que o capitalismo se baseia na destruição dos bens comuns e na mercantilização de todos os aspectos da vida — da terra ao trabalho, da água ao conhecimento.

A recuperação dos commons (comuns), para Federici, é uma forma de resistir à lógica privatizadora do capitalismo. Ela acredita que é possível criar formas alternativas de organização social baseadas na cooperação, na solidariedade e no compartilhamento de recursos, como maneira de confrontar a exploração e a destruição ambiental promovida pelo capitalismo.

Federici argumenta que as mulheres estão na linha de frente dessa luta, especialmente em contextos rurais e em economias que dependem da terra e dos recursos naturais. As lutas feministas em torno do direito à terra, ao corpo e aos bens comuns são vistas por ela como fundamentais para a construção de um futuro mais justo e sustentável.

Silvia Federici, A Violência e a Resistência das Mulheres

Outro tema central na obra de Federici é a violência contra as mulheres no contexto da expansão do capitalismo global. Ela explora como a violência sexual e de gênero é uma ferramenta de controle nas sociedades capitalistas, usada para reforçar hierarquias de poder e manter as mulheres em posições subalternas.

Federici tem sido uma crítica severa das formas como o capitalismo global exacerbou a violência contra as mulheres, especialmente no Sul Global, onde as mulheres muitas vezes enfrentam as piores formas de exploração econômica e violência física. Ela aponta que as políticas neoliberais, como a privatização de recursos e a austeridade, têm impacto desproporcional sobre as mulheres, aumentando sua vulnerabilidade à violência.

No entanto, Federici também destaca as formas de resistência das mulheres a essa violência. Ela vê nas lutas feministas, especialmente nas lutas coletivas em torno do corpo, da terra e dos bens comuns, o potencial para transformar as estruturas de poder capitalistas e criar alternativas mais justas e equitativas.

Obras Principais

  • Calibã e a Bruxa (2004): Uma análise histórica do papel das mulheres na transição para o capitalismo, onde Federici argumenta que a caça às bruxas foi uma forma de controle social crucial para a acumulação primitiva. O livro destaca o papel central das mulheres no trabalho reprodutivo e na resistência ao capitalismo.
  • Revolução no Ponto Zero (2012): Uma coletânea de ensaios em que Federici explora o trabalho reprodutivo e a luta das mulheres como parte integrante da luta contra o capitalismo. Ela propõe que o trabalho doméstico deve ser central nas análises marxistas e feministas.
  • Beyond the Periphery of the Skin (2020): Nesta obra, Federici explora as novas formas de controle sobre o corpo feminino, especialmente no contexto das tecnologias biopolíticas e das novas formas de exploração que surgem na era digital.
  • Witches, Witch-Hunting, and Women (2018): Um estudo sobre as continuidades históricas entre a caça às bruxas e as formas contemporâneas de violência contra as mulheres, em que Federici argumenta que a opressão das mulheres está ligada à expansão do capitalismo.
  • O Ponto Zero da Revolução (2019): Um livro que amplia as reflexões sobre o trabalho reprodutivo e as lutas feministas em um contexto global, analisando as lutas de resistência das mulheres em todo o mundo contra o neoliberalismo.

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