A gravidade geral da saúde mental no trabalho é o resultado de uma série de processos sociais que desgastam o sujeito e o levam ao colapso.
O burnout, uma síndrome causada por estresse crônico no trabalho, tem atingido um número crescente de pessoas. Apenas em 2023, foram emitidos 288.041 benefícios por incapacidade devido a transtornos mentais e comportamentais no Brasil de acordo com dados do INSS. Esse cenário não é apenas um problema de saúde ocupacional, mas também reflete o que o filósofo sul-coreano Byung-Chul Han diagnosticou como a “sociedade do cansaço”.
Han, em seu livro A Sociedade do Cansaço (2010), argumenta que a cultura contemporânea do desempenho está diretamente ligada ao esgotamento das pessoas. Segundo ele, vivemos em uma era de excesso de positividade, onde somos forçados a sermos nossos próprios empreendedores. A pressão para sermos constantemente produtivos e eficientes resulta em uma autocobrança desenfreada, que, segundo Han, é a base para a explosão de doenças psíquicas como a depressão e o burnout.
Han afirma que essa “sociedade do desempenho” é resultado de uma transição do paradigma disciplinar (onde o poder se manifestava por proibições e punições) para o paradigma do desempenho, onde os indivíduos são compelidos a superar continuamente suas próprias capacidades. Ele sugere que o sistema atual transforma os trabalhadores em “empresários de si mesmos”, vivendo sob a ilusão de que são livres e autônomos, quando, na verdade, estão presos em um ciclo de autoexploração. A confusão entre a autocobrança e o esgotamento é típica da sociedade moderna, onde as pessoas não conseguem mais identificar os limites entre seu tempo pessoal e profissional.
A complexidade da situação, como observada por Byung-Chul Han, vai além da mera sobrecarga de trabalho. Ele acredita que a raiz do problema está na transformação das pessoas em “máquinas de desempenho”, incapazes de descansar adequadamente, mesmo quando “descansam”. O esgotamento, portanto, não é apenas físico, mas existencial, com sintomas como crises de choro e confusão mental.
A crise da sociedade do cansaço, evidenciada pelo aumento vertiginoso de casos de burnout, sugere que a lógica do desempenho e da autossuperação, defendida pela cultura contemporânea, não é sustentável. Durante a pandemia, período em que muitas pessoas foram forçadas a adaptar seus ambientes de trabalho para casa, a pressão para ser produtivo aumentou ainda mais, levando ao crescimento desses casos, como indicam os números alarmantes no Brasil.
O pensamento de Byung-Chul Han nos oferece uma perspectiva crucial para entender essa problemática no contexto atual. Suas críticas à cultura da produtividade sem limites apontam que, para superar essa crise, será necessário repensar o valor que a sociedade atribui ao desempenho e ao sucesso, e como esses conceitos moldam nossa saúde mental.
A análise de Han, apesar de ter sido publicada em 2010, é profética ao capturar a essência da cultura contemporânea que alimenta o burnout. Ele adverte que, sem uma ruptura com esse paradigma de produtividade constante, a sociedade continuará a adoecer sob o peso de suas próprias exigências.