Norbert Elias nasceu em Breslávia (hoje Wrocław, na Polônia) em 22 de junho de 1897. Estudou medicina e filosofia antes de se dedicar à sociologia, área em que se destacou. Fugiu da Alemanha nazista em 1933 devido à sua origem judaica, e, após um período de dificuldades, estabeleceu-se na Inglaterra, onde desenvolveu seus principais trabalhos. Elias é conhecido por seu estudo sobre a evolução das sociedades e a formação das estruturas sociais. Faleceu em 1990, deixando uma obra essencial para o entendimento da sociologia histórica e da civilização.
Norbert Elias e O Processo Civilizador
O conceito central da obra de Norbert Elias é o “processo civilizador”. Ele argumenta que, ao longo dos séculos, as sociedades ocidentais passaram por um processo gradual de civilização, onde o controle sobre os impulsos humanos e o comportamento foi se tornando mais rígido e sofisticado. Esse processo ocorreu simultaneamente com a formação dos Estados-nação e o monopólio da violência física pelo Estado.
Elias sugere que os modos de comportamento violentos, antes mais comuns, foram substituídos por comportamentos mais autocontrolados e civilizados, especialmente nas classes altas. Isso foi resultado de uma longa evolução histórica que incluiu a ascensão da corte real e da etiqueta. Um exemplo prático desse processo é o uso de talheres à mesa, que antes era uma prática limitada às elites, mas que se tornou norma para toda a sociedade.
Norbert Elias e A Configuração Social
Outro conceito fundamental de Elias é o de “configuração social”. Para ele, os indivíduos nunca estão isolados, mas sempre inseridos em redes de interdependência, que ele chama de “configurações”. Essas configurações estão em constante mudança, e é a partir delas que as sociedades e os comportamentos são moldados.
Por exemplo, Elias analisou como a sociedade europeia da Idade Média foi se reorganizando à medida que os reinos e feudos se tornaram estados centralizados. A relação entre rei e súditos, ou entre senhores e vassalos, faz parte dessa configuração social, onde cada indivíduo tem um papel interdependente, e essas redes definem os padrões de comportamento e as normas sociais.
O Monopólio da Violência pelo Estado
Norbert Elias também estudou o “monopólio da violência” como parte essencial do processo civilizador. Ele argumentou que, ao longo do desenvolvimento das sociedades ocidentais, o controle da violência física foi centralizado pelo Estado, que detém o poder de impor leis e punições. Esse processo é fundamental para a civilização, pois a diminuição da violência interpessoal está diretamente ligada ao fortalecimento das instituições estatais.
Um exemplo disso é a transição da justiça privada para a justiça pública, onde disputas que antes eram resolvidas com duelos ou vingança pessoal passaram a ser mediadas pelo Estado, através de leis e tribunais. Esse desenvolvimento ajudou a criar uma sociedade mais pacífica e estável.
Norbert Elias e o Desenvolvimento da Etiqueta
Elias analisou como a etiqueta e o autocontrole das emoções são partes centrais do processo civilizador. O refinamento dos costumes, como comer à mesa de forma educada ou controlar os impulsos sexuais em público, são exemplos de como as sociedades foram impondo regras mais rigorosas de comportamento. Para Elias, essas regras são uma forma de distinguir as classes sociais e são reflexo da evolução da civilização ocidental.
O controle sobre o corpo e as emoções, que se reflete em práticas cotidianas como o uso de utensílios à mesa ou o controle sobre os gestos, é uma forma de mostrar a pertença a uma classe social mais elevada. Essas práticas foram se disseminando pelas camadas sociais inferiores com o passar do tempo, transformando a vida social de maneira geral.
Norbert Elias e A Formação do Estado
Elias estudou a formação dos Estados-nação, destacando como eles centralizaram o poder e controlaram o uso da força. Ele argumenta que a formação dos Estados modernos está intimamente ligada ao processo civilizador, pois, com o controle da violência pelas autoridades estatais, a sociedade passou a exigir comportamentos mais controlados e regulados.
Essa centralização do poder político permitiu que os estados monopolizassem a criação e aplicação das leis, estabelecendo um sistema de controle social que limitou os impulsos violentos e a selvageria. Elias estudou especialmente a monarquia francesa, onde o poder do rei se tornou o centro da estrutura social, promovendo um estilo de vida aristocrático e um código de conduta mais civilizado.
Obras Principais
- O Processo Civilizador (1939): Estudo seminal sobre a formação das sociedades modernas e a evolução dos costumes e comportamentos.
- A Sociedade de Corte (1969): Analisa o comportamento das elites nas cortes reais europeias e sua relação com o processo civilizador.
- O Poder e a Civilização (1980): Explora a interdependência entre o poder político e o processo civilizatório.
- Sobre o Tempo (1984): Investiga a mudança das percepções do tempo e seu impacto nas sociedades modernas.
- Os Alemães (1989): Reflete sobre a identidade alemã e o desenvolvimento social e político da Alemanha.
Autores Similares
- Max Weber
- Emile Durkheim
- Michel Foucault
- Pierre Bourdieu
- Zygmunt Bauman
- Anthony Giddens
- Karl Mannheim
- Erving Goffman
- Talcott Parsons
- Randall Collins