The Truth of the Technological World (2013)

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A Filosofia da Técnica de Friedrich Kittler

The Truth of the Technological World: Essays on the Genealogy of Presence, publicado em 2013, é uma coletânea de ensaios do filósofo e teórico da mídia Friedrich Kittler. A obra reúne textos fundamentais de Kittler que exploram o impacto das tecnologias na formação do conhecimento, da cultura e da subjetividade ao longo da história. Kittler é amplamente conhecido por sua abordagem teórica, que investiga a relação entre tecnologia, mídia e cultura, examinando como as tecnologias moldam a maneira como pensamos, sentimos e interagimos com o mundo.

A ideia central que permeia os ensaios de Kittler é que as tecnologias de comunicação, desde a escrita até os meios eletrônicos e digitais, não são simplesmente ferramentas neutras, mas elementos que estruturam nossa realidade e definem a forma como o mundo se apresenta a nós. Kittler desenvolve uma genealogia da presença — uma investigação sobre como a tecnologia media nossa percepção do real e molda a história da cultura e da subjetividade.

1. Genealogia da Técnica e o Conceito de Mídia

Kittler explora o conceito de mídia como o conjunto de dispositivos técnicos que permitem a transmissão, armazenamento e processamento de informações. Ele sugere que a história da cultura não pode ser separada da história das tecnologias de comunicação. Para Kittler, a mídia — seja ela a escrita, a imprensa, o cinema ou o computador — desempenha um papel crucial na formação das estruturas de conhecimento e na maneira como os indivíduos experienciam o mundo.

Ele argumenta que cada nova tecnologia introduz um novo regime de visibilidade, de percepção e de organização da informação. Por exemplo, a invenção da imprensa revolucionou a maneira como o conhecimento era disseminado, enquanto o advento da televisão e, mais tarde, do computador, alterou radicalmente as formas de comunicação e as relações de poder. A mídia, portanto, não é apenas um meio de transmissão, mas uma força ativa que molda a subjetividade e a sociedade.

2. A Técnica como Condição da Cultura

Para Kittler, as tecnologias de mídia e comunicação não são meramente externas à cultura, mas a condicionam. Ele desenvolve a ideia de que as culturas humanas dependem das técnicas disponíveis para transmitir conhecimento, preservar memórias e construir identidades. Kittler rompe com a visão humanista da cultura como um produto autônomo da mente humana, sugerindo que a tecnologia é a base sobre a qual a cultura é construída e que a relação entre humanos e técnicas é de interdependência.

Nesse sentido, ele se distancia de filósofos que veem a técnica como algo que o homem controla. Em vez disso, Kittler sugere que as tecnologias de mídia e comunicação exercem poder sobre as sociedades, criando novos modos de subjetivação e condicionando os modos de pensar. A linguagem, por exemplo, ao ser capturada pela escrita e pelas tecnologias subsequentes, se transforma, mudando a forma como os humanos se expressam e organizam seus pensamentos.

3. O Conceito de Discourse Networks

Em sua obra anterior, Discourse Networks 1800/1900, Kittler introduziu o conceito de discourse networks (redes de discurso), que é retomado em The Truth of the Technological World. Esse conceito refere-se às estruturas institucionais e tecnológicas que permitem a produção, a distribuição e o consumo de conhecimento em diferentes épocas históricas. Ele descreve como, no século XIX, as tecnologias de escrita e impressão estavam associadas a uma rede discursiva que moldava a subjetividade romântica e individualizada. Já no século XX, com a chegada das mídias eletrônicas, como o rádio e a televisão, surgiram novas redes discursivas que promoveram formas de subjetividade mais coletivas e massificadas.

Essas redes de discurso moldam a própria possibilidade de pensar, falar e agir em um determinado contexto histórico. Para Kittler, as tecnologias não apenas influenciam, mas determinam os limites e as condições do que é possível comunicar e conhecer. A mídia, portanto, é vista como uma rede que define o que pode ser dito, quem pode dizer e como o discurso é produzido e consumido.

4. A Mídia e a Genealogia da Subjetividade

Um dos pontos centrais da obra de Kittler é sua análise de como a mídia molda a subjetividade ao longo do tempo. Ele argumenta que as tecnologias de mídia reorganizam as percepções humanas, redefinem as formas de comunicação e influenciam as estruturas de poder e de identidade. No século XX, por exemplo, a mídia eletrônica, como o rádio e a televisão, produziu formas de subjetividade diferentes das que eram comuns na era da impressão.

Kittler sugere que as tecnologias de mídia também desempenham um papel crucial no inconsciente coletivo, uma vez que moldam os sentidos e a memória humana. A subjetividade não pode ser separada das tecnologias que permitem a sua expressão e que influenciam a forma como a memória é preservada e transmitida. Com o advento das mídias digitais, novas formas de subjetividade estão sendo criadas, e Kittler argumenta que é essencial entender essas transformações para compreender a natureza do ser humano no mundo contemporâneo.

5. Tecnologia e Poder

Kittler também examina a relação entre tecnologia e poder. Ele mostra como as tecnologias de comunicação e mídia estão intimamente ligadas ao controle social, ao governo e às instituições de poder. As tecnologias de registro, por exemplo, permitem o controle e a vigilância das populações, moldando não apenas o que as pessoas dizem, mas como elas agem e interagem.

Além disso, Kittler sugere que as tecnologias modernas, como os computadores, introduzem novas formas de controle, já que as mídias digitais podem ser usadas para monitorar e manipular as atividades humanas em níveis sem precedentes. Nesse sentido, a obra de Kittler dialoga com o pensamento de Michel Foucault sobre biopolítica e a gestão das populações, mas com um foco específico nas tecnologias que permitem essa governança.

6. A Verdade do Mundo Tecnológico

O título da obra, The Truth of the Technological World, refere-se à ideia de que a tecnologia cria a “verdade” do mundo em que vivemos. A tecnologia molda a maneira como percebemos a realidade, como interagimos uns com os outros e como produzimos conhecimento. Para Kittler, não há uma verdade subjacente à tecnologia — ela é a própria base sobre a qual nossas realidades são construídas.

Kittler sugere que, para entender o mundo contemporâneo, é necessário entender a história das tecnologias que o moldam. A verdade do mundo tecnológico não é algo que pode ser separado das máquinas e dos dispositivos que usamos diariamente, mas é uma realidade que emerge da interação contínua entre humanos e máquinas.

Conclusão

The Truth of the Technological World é uma obra que oferece uma análise profunda e crítica da relação entre tecnologia, mídia e cultura. Friedrich Kittler desenvolve uma genealogia das tecnologias de comunicação que mostra como elas moldam a subjetividade, a cultura e o poder em diferentes momentos da história. A obra é um convite para repensar a tecnologia não como uma ferramenta neutra, mas como uma força ativa que define a forma como vivemos, pensamos e nos relacionamos.

Ao explorar como as tecnologias de mídia condicionam o pensamento, a linguagem e o poder, Kittler abre novas perspectivas sobre o papel da tecnologia no mundo contemporâneo e sobre como devemos entender as mudanças tecnológicas em curso.

Obras Relacionadas:

  1. Discourse Networks 1800/1900, de Friedrich Kittler – Uma obra anterior de Kittler que explora as redes discursivas e sua relação com a subjetividade nos séculos XIX e XX.
  2. A Sociedade de Controle, de Gilles Deleuze – Um ensaio sobre as novas formas de controle social introduzidas pelas tecnologias digitais.
  3. O Nascimento da Biopolítica, de Michel Foucault – Uma obra que examina as relações entre poder, governança e controle populacional, dialogando com o pensamento de Kittler sobre tecnologia e poder.
  4. Sobre a Fotografia, de Susan Sontag – Uma reflexão sobre o impacto das tecnologias de imagem na percepção e na cultura contemporânea.
  5. A Técnica e o Tempo, de Bernard Stiegler – Um estudo sobre a relação entre tecnologia, tempo e subjetividade, em diálogo com muitos dos temas explorados por Kittler.

O conteúdo principal deste artigo é gerado por uma inteligência artificial treinada para compreender e articular as obras e os conceitos citados. O conteúdo é revisado, editado e publicado por humanos para servir como introdução às temáticas. Os envolvidos recomendam que, na medida do possível, o leitor atraído pelos temas relatados busque a compreensão dos conceitos através da leitura integral dos textos publicados por seus autores originais.