Jacques Rancière

Jacques Rancière

Jacques Rancière, nascido em 10 de junho de 1940, em Argel, na então colônia francesa da Argélia, é um dos filósofos mais influentes do pensamento contemporâneo, conhecido por suas reflexões sobre a política, a democracia, a igualdade e a estética. Rancière se destacou por sua crítica à hierarquização do conhecimento e por sua defesa da ideia de que a emancipação política e intelectual depende da igualdade fundamental de todos os seres humanos. Sua obra desafia muitas das concepções tradicionais de política e estética, promovendo uma visão radical da democracia como uma constante redistribuição dos papéis e espaços sociais.

Política e Igualdade

Para Rancière, a política é o campo onde a igualdade é afirmada de maneira ativa e disruptiva. Diferentemente de outras concepções de política, que a veem como a administração do consenso ou da ordem social, Rancière argumenta que a verdadeira política ocorre quando os indivíduos que foram excluídos do espaço público afirmam sua igualdade e reivindicam seu direito à participação.

Rancière chama esse processo de “dissenso”, um conceito fundamental em sua obra. O dissenso surge quando aqueles que estão fora das normas e hierarquias estabelecidas — muitas vezes os “sem-parte” ou aqueles que não têm lugar na ordem social — se levantam e afirmam sua igualdade, rompendo com as formas estabelecidas de fazer política. Em vez de ver a política como a manutenção da ordem, Rancière a vê como o processo contínuo de desafiar e reconfigurar as estruturas que excluem e marginalizam.

Ele argumenta que a política não é a simples gestão de interesses, mas um ato de redistribuição dos espaços e das vozes, onde aqueles que foram silenciados ou ignorados se tornam visíveis. Para Rancière, a política autêntica é, portanto, o ato de subverter as hierarquias e romper com as divisões entre aqueles que governam e aqueles que são governados.

Jacques Rancière e O Desentendimento

No coração do pensamento político de Rancière está a ideia de “desentendimento” (mésentente), que descreve a maneira como a política surge de um desacordo fundamental sobre a definição de quem pode falar e ser ouvido, e sobre o que significa ter uma voz no espaço público.

O desentendimento, para Rancière, não é um simples desacordo entre posições diferentes, mas uma disputa sobre o que é considerado legítimo no discurso político. Ele surge quando aqueles que não têm voz — ou cujas vozes são ignoradas — se recusam a aceitar as normas da sociedade que os exclui e, em vez disso, reivindicam seu direito de falar e ser ouvidos.

Um exemplo clássico que Rancière usa é o do operário ou trabalhador, cuja voz muitas vezes não é considerada legítima no campo político tradicional, sendo visto apenas como uma força de trabalho, e não como um sujeito político. No entanto, quando esses indivíduos afirmam sua voz e sua igualdade política, eles desafiam a estrutura da ordem social, criando o que Rancière chama de “momento político”. Esse momento disruptivo revela as tensões e exclusões que sustentam a ordem política e social, abrindo caminho para a transformação.

Jacques Rancière, Democracia e a Partilha do Sensível

Rancière é um crítico da visão consensual e tecnocrática da democracia que se desenvolveu nas sociedades modernas. Em vez de ver a democracia como um sistema estável de representação e governança, ele a vê como uma prática disruptiva que questiona constantemente as divisões sociais e os papéis predeterminados. Para ele, a democracia é um processo de redistribuição, onde as vozes excluídas ou ignoradas reclamam seu direito de participar na definição dos espaços e papéis sociais.

Em seu livro “O Ódio à Democracia” (2005), Rancière argumenta que, na era contemporânea, a democracia verdadeira — no sentido de uma participação ativa e igualitária de todos — é frequentemente vista com desconfiança pelas elites políticas e intelectuais, que a reduzem a um simples sistema de governança. Para Rancière, isso é uma traição à ideia original de democracia, que é essencialmente o governo de qualquer um, e não apenas daqueles considerados qualificados ou competentes.

Ele propõe o conceito de “partilha do sensível” para explicar como o espaço social e político é dividido e organizado. A “partilha do sensível” refere-se à maneira como a sociedade distribui as posições e funções, definindo quem pode ver, ouvir, falar e agir. A política, para Rancière, envolve o ato de redistribuir essa partilha, rompendo as barreiras que excluem certas pessoas ou grupos de participar do espaço político.

A verdadeira política, portanto, não é a gestão consensual da sociedade, mas o ato de questionar as fronteiras que determinam quem pode participar e o que pode ser dito. A política é, para Rancière, um ato de ruptura, onde o que foi excluído da partilha do sensível se torna visível e ativo.

Jacques Rancière e A Emancipação Intelectual

Um tema central na obra de Rancière é a ideia de emancipação intelectual, desenvolvida em seu livro “O Mestre Ignorante” (1987), onde ele reflete sobre a experiência do educador francês Joseph Jacotot. Jacotot, que ensinava a partir do princípio de que qualquer pessoa é capaz de aprender independentemente de sua formação prévia, inspirou Rancière a questionar as hierarquias tradicionais do conhecimento.

Para Rancière, a igualdade intelectual é um princípio fundamental. Ele rejeita a ideia de que existem diferenças inatas de inteligência ou capacidade entre as pessoas e argumenta que todos os seres humanos possuem a capacidade de pensar e aprender por conta própria. A emancipação, para ele, não significa que um indivíduo seja levado a um nível superior por alguém mais “sábio”, mas sim o reconhecimento de que todos já são iguais em inteligência.

Esse conceito de emancipação intelectual desafia as práticas educativas tradicionais, que são baseadas em hierarquias de conhecimento e poder. Rancière defende que o papel do educador não é “transmitir” conhecimento, mas sim criar as condições para que os alunos percebam sua própria capacidade de aprender, de forma autônoma e livre de dependências hierárquicas.

Jacques Rancière, Estética e Política

Além de suas reflexões sobre política, Rancière também é conhecido por seu trabalho sobre estética, em que ele explora as interseções entre arte e política. Para ele, a estética não está separada da política, mas é um campo onde o sensível é distribuído e a realidade é organizada. Em seu livro “O Destino das Imagens” (2003), ele examina como as imagens, a arte e a estética são usadas para produzir e legitimar certas formas de ordem social e política.

Rancière acredita que a arte pode desempenhar um papel crucial na política ao questionar e subverter as estruturas estabelecidas de percepção e representação. A arte, segundo ele, tem o poder de reconfigurar o sensível, desafiando as formas tradicionais de ver e entender o mundo. Isso pode abrir novas possibilidades de percepção e ação, ajudando a romper com as normas que sustentam a exclusão e a desigualdade.

Ele também explora a ideia de que o cinema e outras formas de arte popular podem desempenhar um papel emancipador ao apresentar novas formas de ver e entender a realidade, desafiando a partilha do sensível imposta pela ordem dominante.

Obras Principais

  • O Mestre Ignorante (1987): Neste livro, Rancière explora a ideia de emancipação intelectual, propondo que todos são igualmente capazes de aprender e pensar, independentemente das hierarquias educacionais tradicionais.
  • A Partilha do Sensível (2000): Uma obra fundamental na qual Rancière desenvolve seu conceito de “partilha do sensível”, mostrando como a política e a estética se entrelaçam na organização da experiência social.
  • O Ódio à Democracia (2005): Uma crítica à maneira como a democracia é muitas vezes entendida e administrada no mundo contemporâneo, e um apelo à verdadeira democracia como o governo de qualquer um.
  • O Desentendimento (1995): Neste livro, Rancière explora a ideia de desentendimento, uma disputa fundamental sobre quem tem o direito de falar e ser ouvido no espaço público, o que ele vê como o cerne da política.
  • O Destino das Imagens (2003): Rancière examina o papel das imagens e da arte na política, mostrando como a estética pode ser uma ferramenta de emancipação e transformação social.

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