O Riso: Ensaio sobre o Significado do Cômico (1900)

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A Análise Filosófica de Henri Bergson sobre o Humor e o Cômico

O Riso: Ensaio sobre o Significado do Cômico (Le Rire: Essai sur la signification du comique), publicado em 1900, é uma das obras mais acessíveis e populares de Henri Bergson. Neste ensaio, Bergson examina o fenômeno do riso e o que consideramos cômico, propondo uma reflexão filosófica sobre as funções e os mecanismos subjacentes ao humor. Ele busca entender por que rimos, como o riso funciona como uma reação social e qual o seu significado dentro das relações humanas e sociais.

O ensaio é amplamente reconhecido por sua originalidade e por apresentar uma abordagem única ao estudo do humor, que Bergson associa a uma série de comportamentos mecânicos que contrastam com a fluidez e a espontaneidade da vida. O riso, para Bergson, tem um papel social importante, servindo para corrigir desvios comportamentais e ajudar a manter a coesão social.

1. A Natureza Mecânica do Cômico

Bergson argumenta que o cômico surge, em grande parte, quando há uma rigidez ou automatismo nas ações humanas, algo que ele descreve como “o mecânico encravado no vivo”. Segundo ele, rimos quando vemos comportamentos ou gestos que, em vez de serem fluidos e adaptáveis, tornam-se repetitivos, previsíveis ou excessivamente rígidos, como se a pessoa estivesse agindo de maneira mecânica.

Ele dá exemplos de situações em que o cômico surge da rigidez corporal ou comportamental, como tropeções, quedas ou gestos exagerados que tornam as pessoas semelhantes a autômatos. Essas situações cômicas provocam riso justamente porque contrastam com o que esperamos da vida humana, que é caracterizada por sua flexibilidade, adaptabilidade e criatividade.

Bergson argumenta que o riso é uma forma de sanção social. Ao rir de alguém que age de forma automática ou mecânica, a sociedade está, implicitamente, corrigindo esse comportamento e incentivando a pessoa a ser mais consciente e adaptável. Nesse sentido, o riso tem uma função social: ele age como uma forma de controle que desencoraja a rigidez e a desconexão entre o indivíduo e o grupo social.

2. O Cômico como Fenômeno Social

Um dos pontos centrais do ensaio de Bergson é sua afirmação de que o cômico é um fenômeno essencialmente social. Ele argumenta que o riso não é uma experiência isolada ou individual; ele ocorre sempre dentro de um contexto social e visa uma audiência. Para Bergson, o riso exige uma certa “insensibilidade” emocional: rimos de situações em que podemos manter uma distância emocional, observando os eventos de forma objetiva e desapegada.

O riso surge, segundo Bergson, quando nos colocamos em um ponto de vista coletivo, distanciando-nos das emoções e simpatias pessoais que poderíamos sentir por um indivíduo. Por exemplo, rimos de uma pessoa que escorrega em uma casca de banana porque não estamos emocionalmente envolvidos com ela naquele momento, mas sim observando o evento de fora, como espectadores.

Bergson argumenta que o riso serve para reforçar as normas e as expectativas sociais. Ao rir, estamos respondendo a comportamentos que consideramos desviantes ou inapropriados, e, ao fazê-lo, reafirmamos as regras não ditas que governam a vida social. O riso, portanto, tem uma função corretiva: ele é uma forma de pressão social que incentiva a conformidade e desencoraja a excentricidade excessiva ou a rigidez comportamental.

3. O Cômico de Situação e o Cômico de Caráter

Bergson distingue entre diferentes formas de cômico, sendo duas delas o cômico de situação e o cômico de caráter. O cômico de situação ocorre quando a comicidade surge de um conjunto específico de circunstâncias, geralmente inesperadas ou incongruentes. Situações cômicas frequentemente envolvem mal-entendidos, coincidências ou descompassos que criam um contraste entre as expectativas e a realidade.

Por exemplo, em uma comédia de erros, onde os personagens são constantemente colocados em situações absurdas ou embaraçosas, o cômico surge da incongruência entre o que os personagens acreditam estar acontecendo e o que realmente está acontecendo. Essa incongruência, segundo Bergson, é uma fonte rica de humor, pois destaca a rigidez e a falta de adaptabilidade dos personagens.

O cômico de caráter, por outro lado, está relacionado às peculiaridades e idiossincrasias dos indivíduos. Esse tipo de cômico emerge quando uma característica de personalidade é exagerada até o ponto de se tornar uma caricatura. Bergson argumenta que, no cômico de caráter, o riso decorre da repetição de uma característica pessoal que, ao ser exagerada, se torna previsível e mecânica. Personagens fixos e inalteráveis em suas manias ou vícios são fontes comuns de cômico de caráter.

Esse tipo de cômico também está relacionado à crítica social, pois ao rirmos das falhas ou peculiaridades dos personagens, muitas vezes estamos criticando certos comportamentos ou modos de ser que são socialmente inaceitáveis ou ridículos.

4. A Linguagem como Fonte de Humor

Bergson também explora o papel da linguagem no cômico. Ele argumenta que a linguagem pode ser uma fonte poderosa de humor, especialmente quando usada de maneiras inesperadas ou criativas. O jogo de palavras, o trocadilho e o mal-entendido são algumas das formas que a linguagem pode assumir para gerar humor.

A comicidade na linguagem, segundo Bergson, frequentemente surge de um descompasso entre o significado literal e o significado figurado das palavras. Quando as palavras são interpretadas de maneira inesperada ou fora de contexto, a incongruência que isso gera provoca riso. Além disso, o uso repetitivo ou automatizado de expressões também pode ser cômico, pois revela a rigidez do pensamento ou a falta de adaptabilidade linguística de uma pessoa.

Bergson enfatiza que o cômico na linguagem reflete os mesmos princípios que o cômico no comportamento: o riso surge quando detectamos rigidez, automatismo ou descompasso em relação ao que seria esperado em uma interação social fluida e adaptável.

5. O Papel do Riso na Vida Social

Em sua conclusão, Bergson reflete sobre a importância do riso na vida social. Ele argumenta que o riso tem uma função reguladora, pois serve para corrigir comportamentos que ameaçam a harmonia ou a flexibilidade da sociedade. O riso, segundo ele, é uma “ferramenta” que a sociedade usa para manter a ordem e a adaptabilidade.

No entanto, Bergson também adverte que o riso é uma forma de controle social que pode ser cruel ou excludente. Embora o riso seja muitas vezes uma resposta inofensiva a pequenas excentricidades ou erros, ele também pode ser usado para ridicularizar aqueles que se desviam das normas sociais de maneiras mais profundas. Assim, o riso tem um papel ambivalente: ele é ao mesmo tempo um meio de criar coesão social e de reforçar as exclusões e desigualdades dentro da sociedade.

Para Bergson, o riso é uma expressão da vida social em movimento, sempre tentando manter o equilíbrio entre a ordem e a mudança, a conformidade e a individualidade.

Conclusão

O Riso: Ensaio sobre o Significado do Cômico é uma obra fundamental de Henri Bergson, que oferece uma análise filosófica profunda sobre o fenômeno do riso e do humor. Ao explorar o papel do riso na sociedade, Bergson argumenta que o cômico surge da rigidez e do automatismo, contrastando com a flexibilidade da vida. Ele também sugere que o riso serve como uma ferramenta social que ajuda a manter a coesão e a corrigir desvios comportamentais.

A obra continua a ser uma referência importante nos estudos do humor e da comédia, oferecendo insights valiosos sobre a relação entre o riso, a linguagem e as normas sociais. Ao propor que o riso tem uma função reguladora na sociedade, Bergson lança luz sobre a complexidade das interações humanas e o papel do humor na vida cotidiana.

Obras Relacionadas:

  1. A Poética, de Aristóteles – Um estudo sobre a tragédia e a comédia, explorando os mecanismos do drama e do riso.
  2. O Espírito das Leis, de Montesquieu – Um estudo sobre as leis que regem as sociedades, que também trata do papel das normas sociais na vida coletiva.
  3. As Ideias do Cômico, de Vladimir Propp – Uma análise estruturalista das formas narrativas e cômicas nas tradições orais e literárias.
  4. O Homem e o Cômico, de Luigi Pirandello – Uma reflexão sobre a natureza do cômico e suas implicações filosóficas e existenciais.
  5. O Riso, de Sigmund Freud – Um estudo psicanalítico do riso, do humor e das piadas, explorando o inconsciente na criação do cômico.

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