A Teoria da Estruturação de Anthony Giddens
Em A Constituição da Sociedade, publicado em 1984, Anthony Giddens apresenta sua inovadora teoria da estruturação, uma tentativa de conciliar dois conceitos que muitas vezes foram vistos como opostos na sociologia: a agência (as ações dos indivíduos) e a estrutura (as instituições e normas sociais que moldam essas ações). Giddens propõe uma abordagem dialética, sugerindo que as estruturas sociais não são apenas forças externas que constrangem os indivíduos, mas também são produzidas e reproduzidas por suas ações cotidianas. Assim, há uma relação de interdependência entre agência e estrutura, que ele chama de “dualidade da estrutura”.
A obra é considerada uma das mais importantes contribuições de Giddens para a sociologia, oferecendo uma nova maneira de entender a relação entre o indivíduo e a sociedade, e ajudando a superar o debate entre as abordagens estruturalistas, que enfatizam o poder das estruturas, e as teorias da ação, que colocam ênfase na capacidade dos indivíduos de moldarem suas próprias vidas.
Giddens começa sua análise discutindo as limitações tanto do estruturalismo quanto das teorias da ação. Ele critica os estruturalistas por verem as estruturas sociais como algo externo e determinante, que governa as ações dos indivíduos de forma quase automática. Por outro lado, ele sugere que as teorias da ação, que colocam a ênfase na liberdade e na agência individual, tendem a negligenciar o impacto das instituições e das normas sociais. A teoria da estruturação, segundo Giddens, visa reconciliar essas duas abordagens ao sugerir que as estruturas sociais são tanto o meio quanto o resultado das ações humanas.
Um dos conceitos centrais da teoria da estruturação é a noção de que as estruturas são ao mesmo tempo regras e recursos. As regras fornecem os esquemas que guiam o comportamento e a interação social, enquanto os recursos referem-se às capacidades materiais e não materiais que os indivíduos utilizam em suas interações. No entanto, essas estruturas não são fixas ou imutáveis; elas existem apenas porque são continuamente reproduzidas pelas ações dos indivíduos. Ao seguir ou desviar-se das regras, e ao utilizar os recursos disponíveis, os indivíduos não apenas se ajustam às estruturas existentes, mas também as mantêm ou as transformam.
Giddens explora o conceito de agência de forma significativa, argumentando que os indivíduos não são apenas agentes passivos dentro das estruturas sociais. Eles têm a capacidade de refletir sobre suas ações, tomar decisões e modificar as estruturas em que estão inseridos. Essa capacidade reflexiva é uma característica importante da vida moderna, onde as pessoas estão constantemente avaliando e ajustando suas ações em resposta às mudanças ao seu redor. Para Giddens, a agência humana é sempre um processo ativo de criação e reprodução das estruturas sociais.
Outro aspecto fundamental da teoria de Giddens é a ideia de tempo e espaço. Ele argumenta que as interações sociais ocorrem em contextos específicos de tempo e espaço, e que as estruturas sociais não podem ser compreendidas sem levar em consideração esses fatores. No entanto, as estruturas modernas permitem que as interações sociais transcendam os limites imediatos de tempo e espaço, especialmente através da globalização e das novas tecnologias. Assim, Giddens sugere que a modernidade introduziu novas formas de “desencaixação”, onde as práticas sociais se tornam cada vez mais desligadas dos contextos locais.
A teoria da estruturação também introduz o conceito de reflexividade, que Giddens considera um aspecto chave da modernidade. A reflexividade refere-se à capacidade dos indivíduos de monitorar e revisar suas ações à luz de novas informações e experiências. Na modernidade, essa reflexividade se intensifica, à medida que as tradições e as normas fixas são cada vez mais desafiadas, e os indivíduos têm que tomar decisões em um ambiente de incerteza. Isso gera um mundo em constante transformação, onde as estruturas sociais são continuamente reproduzidas e modificadas através das práticas reflexivas dos indivíduos.
Giddens explora a dualidade da estrutura, um dos conceitos mais importantes da obra. Ele argumenta que as estruturas sociais têm uma dualidade porque, ao mesmo tempo que limitam as ações dos indivíduos, também dependem dessas ações para existir. As instituições sociais, como a economia, a família, ou o sistema legal, só podem funcionar porque os indivíduos aderem às normas e expectativas associadas a essas instituições. No entanto, os indivíduos também podem modificar ou subverter essas normas, levando à mudança social. Essa dualidade é central para a compreensão da interação contínua entre agência e estrutura.
A Constituição da Sociedade é, portanto, uma obra fundamental que oferece uma nova maneira de pensar a relação entre o indivíduo e a sociedade. A teoria da estruturação de Giddens não só desafia a dicotomia entre agência e estrutura, mas também oferece um modelo para entender como as mudanças sociais ocorrem e como as instituições são mantidas ou transformadas ao longo do tempo. A obra continua a ser amplamente estudada e influente em diversas áreas das ciências sociais, incluindo sociologia, ciência política e estudos culturais.
Para quem deseja explorar outras perspectivas sobre agência, estrutura e mudança social, seguem cinco obras recomendadas:
- A Sociedade em Rede, de Manuel Castells – Explora a globalização e as redes de comunicação como novas formas de estrutura social.
- Estrutura e Agência, de Margaret Archer – Uma análise detalhada sobre a relação entre agência e estrutura, complementando as ideias de Giddens.
- As Regras do Método Sociológico, de Émile Durkheim – Um clássico que examina a importância das normas e instituições sociais no comportamento humano.
- O Ser e o Tempo, de Martin Heidegger – Obra filosófica que influencia a noção de reflexividade e temporalidade na teoria da estruturação de Giddens.
- Sociedade de Risco, de Ulrich Beck – Explora como as sociedades modernas lidam com o risco e a incerteza em um mundo globalizado.