Staying with the Trouble (2016)

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Donna Haraway e a Criação de Novas Relações para Enfrentar a Crise Planetária

Staying with the Trouble: Making Kin in the Chthulucene (2016), de Donna Haraway, é uma obra que desafia as narrativas predominantes sobre o Antropoceno e oferece uma nova forma de entender e agir diante das crises ecológicas, políticas e sociais que afetam o planeta. Haraway rejeita a ideia de que a era atual, marcada pela influência destrutiva da atividade humana no meio ambiente, pode ser adequadamente capturada pelo conceito de “Antropoceno”. Em vez disso, ela propõe o termo Chthulucene, uma era em que os seres humanos e outras espécies se entrelaçam em relações de coexistência e co-evolução.

O livro é uma convocação para que os humanos “fiquem com o problema” – ou seja, permaneçam envolvidos com as crises e tensões do mundo contemporâneo, em vez de buscar soluções rápidas ou pensar em termos de salvação futura. Haraway argumenta que enfrentar as crises planetárias exige que os humanos aceitem a complexidade e a interdependência entre todas as formas de vida, reconhecendo que somos inextricavelmente conectados a outros seres vivos e ao ambiente. A solução, segundo ela, não está em dominar ou controlar a natureza, mas em criar novas formas de kinship (parentesco) com as outras espécies e com o mundo em que vivemos.

A noção de Chthulucene que Haraway propõe é uma crítica às narrativas do Antropoceno e do Capitaloceno. O Antropoceno, o termo comumente usado para descrever a era geológica em que as atividades humanas têm impactos profundos no sistema planetário, centra-se na ideia de que os humanos são a força dominante na Terra. Haraway critica essa visão por ser excessivamente centrada no ser humano e por ignorar as formas pelas quais outras espécies e forças não-humanas moldam o planeta. Já o Capitaloceno, que enfoca o papel do capitalismo na degradação ambiental, também é visto como insuficiente para capturar a totalidade das relações entre humanos e o planeta. Ao propor o Chthulucene, Haraway destaca a importância de reconhecermos as redes de interconexões e co-dependências que moldam a vida no planeta.

Um dos conceitos centrais no livro é o de making kin (fazer parentesco). Para Haraway, criar novas formas de parentesco vai além dos laços biológicos e abrange relações éticas e políticas com outras espécies, formas de vida e o meio ambiente. Fazer parentesco significa criar laços de responsabilidade, cuidado e solidariedade com outras formas de vida, reconhecendo a interdependência que sustenta a vida no planeta. Essa abordagem implica que, para enfrentar as crises globais, precisamos desenvolver novas maneiras de nos relacionar com os outros seres, deixando de lado as hierarquias tradicionais entre humanos e não-humanos.

Haraway explora diversas formas de kin ao longo do livro, destacando exemplos de colaboração entre humanos e outras espécies que podem servir como modelos para uma nova ética ecológica. Um exemplo é a relação entre humanos e abelhas, onde Haraway destaca a importância dessas criaturas para a polinização e a manutenção dos ecossistemas. Ela argumenta que os humanos têm a responsabilidade de cuidar desses seres e de aprender a viver em co-dependência com eles, em vez de explorá-los ou destruí-los.

Outro aspecto importante do livro é o uso que Haraway faz de histórias especulativas e ficcionais para explorar futuros possíveis. Em vez de apresentar soluções concretas ou modelos rígidos para resolver as crises ecológicas, ela usa a ficção como uma forma de imaginar novas formas de vida em um planeta danificado. Esses contos especulativos, inspirados na ficção científica, servem como um modo de refletir sobre como as relações entre humanos e não-humanos podem ser reorganizadas para criar um futuro mais sustentável e justo.

Haraway também aborda a questão do tempo e da urgência nas discussões sobre a crise ecológica. Ela rejeita tanto o pessimismo apocalíptico quanto o otimismo tecnológico, sugerindo que ambos os extremos simplificam a complexidade das crises planetárias. Em vez disso, ela defende uma abordagem que reconheça o tempo como múltiplo e entrelaçado, onde diferentes espécies e ecossistemas têm suas próprias temporalidades. Haraway sugere que devemos aprender a viver com essas temporalidades diferentes, aceitando a incerteza e a complexidade como parte da vida no Chthulucene.

O chamado de Haraway para “ficar com o problema” não é um convite à passividade, mas sim uma convocação para engajamento ativo, uma forma de estar no mundo que reconhece a complexidade e a interdependência de todos os seres. Ela desafia a ideia de que a salvação está em soluções simplistas ou em um retorno nostálgico a um passado idealizado. Em vez disso, ela sugere que precisamos nos envolver com os problemas de forma criativa e colaborativa, trabalhando com outras espécies e com o planeta de maneira a criar possibilidades para a continuidade da vida.

Ao longo do livro, Haraway também desafia o antropocentrismo – a ideia de que os humanos são o centro e o ápice da criação – e propõe um novo modelo de coexistência e interdependência. Para ela, a era do Chthulucene é uma oportunidade para reimaginar o lugar dos humanos no planeta, não como mestres da Terra, mas como parceiros entrelaçados com outras formas de vida em redes de reciprocidade e cuidado mútuo.

Staying with the Trouble é uma obra desafiadora que convida os leitores a reavaliar suas suposições sobre a relação entre humanos e o planeta. Haraway não oferece respostas fáceis ou soluções rápidas, mas propõe uma maneira de pensar e agir que nos mantém engajados com os problemas, ao invés de buscar uma solução simplista ou uma saída apocalíptica. Seu trabalho é um chamado à criatividade, ao cuidado e à solidariedade, em um momento em que o planeta enfrenta crises sem precedentes.

Para quem deseja explorar mais sobre ecologia, interdependência e os desafios do Antropoceno, seguem cinco obras recomendadas:

  1. A Terra Inabitável, de David Wallace-Wells – Um relato das consequências devastadoras das mudanças climáticas e uma chamada à ação urgente.
  2. A Vida dos Animais, de J.M. Coetzee – Uma reflexão literária sobre a relação entre humanos e animais e as questões éticas que ela suscita.
  3. Homo Deus: Uma Breve História do Amanhã, de Yuval Noah Harari – Um estudo sobre o futuro da humanidade à luz dos avanços tecnológicos e das crises ecológicas.
  4. A Ecologia de Gaia, de James Lovelock – Uma introdução à hipótese de Gaia, que vê a Terra como um organismo vivo e interconectado.
  5. Cyborg Manifesto, de Donna Haraway – Uma obra anterior de Haraway, que explora as fronteiras entre humanos, máquinas e outros seres, antecipando muitas das ideias que ela desenvolve em Staying with the Trouble.

O conteúdo principal deste artigo é gerado por uma inteligência artificial treinada para compreender e articular as obras e os conceitos citados. O conteúdo é revisado, editado e publicado por humanos para servir como introdução às temáticas. Os envolvidos recomendam que, na medida do possível, o leitor atraído pelos temas relatados busque a compreensão dos conceitos através da leitura integral dos textos publicados por seus autores originais.